Do outro lado do mundo, na Ucrânia, assistimos a uma guerra que traz sofrimento a dezenas de milhares de pessoas, fazendo um véu de preocupação e tristeza recair sob nós.
Aqui no Alto Uruguai, nesta sexta-feira, 25 de fevereiro, dia que marcou a primeira captação de órgãos do ano no Hospital de Caridade de Erechim, uma família mostrou que, mesmo diante da dor representada pela morte de um ente querido, é possível ser generoso.
É possível ter esperança.
É possível ser nobre.
É possível levar um sopro de amor ao próximo.
Tais sentimentos beneficiarão, agora, três pessoas com a doação do fígado e de dois rins, oriundos de uma paciente de 54 anos, que teve sua morte encefálica constatada na quinta-feira, 24, depois de passar oito dias internada na UTI do HC, em razão de um AVC Hemorrágico causado por um aneurisma cerebral.
O procedimento de captação dos órgãos – respeitando a vontade da vítima, manifestada em vida – foi coordenado pela Central de Transplante do Estado e executado pelas equipes do Instituto de Cardiologia, de Porto Alegre, e do Hospital Dom Vicente Scherer, representados pelos médicos Rodrigo e Mayara, ao lado da enfermeira Michele, com apoio técnico de equipes multidisciplinares do HC, envolvendo Centro Cirúrgico, anestesistas e de membros da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes – CIHDOTT do Caridade, que há 20 anos desenvolve este importante trabalho, com 12 captações já realizadas.
Exemplo a ser seguido
Os primeiros movimentos para viabilizar a captação dos órgãos iniciaram a partir da manifestação da família da doadora, logo após a constatação da morte encefálica, ainda na quinta-feira – ao que o superintendente do Hospital de Caridade de Erechim, Claudiomiro Carus, agradece, na expectativa de que inspire outras pessoas. Carus também pontua o trabalho da equipe multidisciplinar do HC, que atuou com dedicação e profissionalismo, merecendo o reconhecimento dos profissionais envolvidos na ação.
Grandioso
Conforme a enfermeira responsável pela CIHDOTT, Mirian Sbardelotto, o gesto dos familiares foi grandioso, tendo se tornado possível graças à discussão do tema junto à família da doadora – algo que precisa se tornar mais comum em nosso país. “O que eles fizeram foi por amor. Mesmo na perda, realizaram a doação pensando no próximo, nas pessoas que estão na fila de espera”, destaca Miriam.
No Brasil, explica a enfermeira, há duas opções de doador: a primeira é o doador vivo, que pode ser qualquer pessoa que concorde com a doação, desde que não prejudique a sua própria saúde; e a segunda é o doador falecido. “Para ser um doador, basta conversar com sua família sobre o seu desejo e deixar claro que seus familiares devem autorizar a doação de órgãos em caso de morte encefálica”, resume.
A CIHDOTT
Integrada por uma equipe multidisciplinar de médicos, psicólogas, enfermeiras e administrativo, a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes – CIHDOTT do HC tem como papel fundamental atuar na conscientização das pessoas quanto à importância da doação de órgãos e tecidos, e, por este motivo, realiza regularmente palestras em escolas, instituições de saúde e empresas.
Você sabia?
Em setembro de 2021, mais de 53 mil pessoas esperavam na fila por doação de órgãos no Brasil, sendo que, nos 9 primeiros meses do ano passado, das 2,8 mil famílias que tiveram de decidir pela doação, 62% disseram sim; e 38%, não.